1 Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ

2 Faculdade de Ciências Médicas – UERJ

3 Serviço de Hemoterapia HUPE – UERJ

Resumo

De acordo com o Ministério da Saúde, apenas 1,8% da população doa sangue anualmente(1). No Brasil, os bancos de sangue obedecem às normas nacionais, como as do Ministério da Saúde, e algumas internacionais, como as da Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB), da Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue (ISBT) e do Conselho Europeu (CE). Dessa forma, é de grande valia compreender as causas de inaptidão para a doação de sangue, pois a maioria das causas requerem acompanhamento e tratamento, para que, entre outras razões, os candidatos, retornem ao pool de doadores assim que possível. O alto rigor no cumprimento dessas normas visa oferecer segurança e proteção ao receptor e ao doador. Além disso, é importante criar padrões de alerta para patologias e riscos que reduzem a frequência da doação, ou mesmo impedem a sua realização, para gerar oportunidade de encaminhamento destes ao sistema de saúde e proporcionar possibilidade de solução da causa da inaptidão.

Palavras-chave: banco de sangue, inaptidão, doador.

Summary

According to the Ministry of Health, only 1.8% of the population donates blood annually(1). In Brazil, blood banks comply with national standards, such as those of the Ministry of Health, and some international ones, such as the American Association of Blood Banks (AABB), International Blood Transfusion Society (ISBT) and European Council (EC). Therefore it is of great value to understand the causes of unfitness for blood donation, since most causes require follow-up and treatment so that, among other reasons, candidates return to the group of donors as soon as possible. The high accuracy in complying with these standards aims to provide security and protection to the recipient and the donor. In addition, it is also important to create alert patterns for pathologies and risks that reduce the frequency of donation, or even prevent it from being carried out, to generate an opportunity for referral to the health system and provide the possibility of solving the cause of disability.

Key words: blood bank, disability, donor.

Introdução

De acordo com o Ministério da Saúde, apenas 1,8% da população doa sangue anualmente(1). No Brasil, os bancos de sangue obedecem às normas nacionais, como as do Ministério da Saúde, e algumas internacionais, como as da Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB), da Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue (ISBT) e do Conselho Europeu (CE). Dessa forma é de grande valia compreender as causas de inaptidão para a doação de sangue, pois a maioria das causas requerem acompanhamento e tratamento, para que, entre outras razões, os candidatos, retornem ao pool de doadores assim que possível. O alto rigor no cumprimento dessas normas visa oferecer segurança e proteção ao receptor e ao doador. Além disso, é importante criar padrões de alerta para patologias e riscos que reduzem a frequência da doação, ou mesmo impedem a sua realização, para gerar oportunidade de encaminhamento destes ao sistema de saúde e proporcionar possibilidade de solução da causa da inaptidão. 

Objetivo

Caracterizar os tipos de inaptidão clínica de doadores e doadoras de sangue do Núcleo de Hemoterapia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (NHHUPE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Metodologia

O estudo foi realizado no Núcleo de Hemoterapia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (NHHUPE) vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que atende prioritariamente a demanda transfusional dos usuários daquela instituição. A média de candidatos à doação de sangue no NHHUPE é de 20 candidatos por dia, com média anual variando de 3500 a 6000 candidatos por ano. Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, descritiva, retrospectiva, realizado através de recorte temporal no período de 2012 a 2017. Os dados foram obtidos do sistema de hemoterapia Hemote Plus® usado desde 2010 pelo setor e as variáveis analisadas foram idade, sexo, número de inaptos e causas de inaptidão. Os candidatos à doação no NHHUPE, após responderem um questionário estruturado, passaram por entrevista que visava compreender as possíveis condições de saúde e vulnerabilidade que sugeririam um fator de risco para o doador e/ou receptor. Após a entrevista, foi feita a avaliação hematológica para verificar se o candidato(a) à doação atendia ao parâmetro hematimétrico nos valores de referências recomendados pela Portaria Consolidada MS No5/20172, anexo IV, i.e. nível mínimo de Hb 13 g/dl para homens e 12,5g/dl para mulheres. Esta avaliação foi realizada por amostra de sangue capilar, através de punção digital. A dosagem quantitativa da hemoglobina total foi realizada em fotômetro automatizado, calibrado, com metodologia de verificação pelo ponto isosbéstico, marca HemoCue®, modelo Hb 301, o qual é testado diariamente pelos técnicos do setor com as soluções controle para verificação do seu desempenho e validação dos resultados. Todos os triagistasdo NHHUPE passam por treinamento para o correto uso do hemoglobinômetro, conforme especificado pelo fabricante.

Resultados: Compareceram para doação de sangue no período do estudo, 33.996 candidatos, sendo 18.853 (55,45%) homens e 15.143 (44,54%) mulheres, a maioria entre 18 e 29 anos. O número de inaptos foi de 3.592 (44,82%) e 4.423 (55,18%) para homens e mulheres respectivamente, onde grande parte era doador(a) de primeira vez.

(Tabela 1). O índice de inaptidão clínica foi de 28,36% no período. 

Tabela 1. Perfil dos inaptos clínicos no NHHUPE, no período de 2012 a 2017.

Anemia foi a principal causa de inaptidão entre as mulheres (N= 1954/ 44,18%), enquanto comportamento/atitude de risco para DST foi a causa de inaptidão mais frequente entre os homens (N=407/ 11,33%) (Figura 1). Hipertensão arterial foi a segunda causa de inaptidão em ambos os sexos.

GRÁFICO A

GRÁFICO B

Figura 1. Causas de inaptidão em mulheres (A) e homens (B) no NHHUPE, no período de 2012 a 2017.

Discussão

O número de candidatos inaptos clínicos encontrou-se acima da média estipulada pela Hemorrede do Rio de Janeiro, que é <18%(3), sendo mais frequente em doadores de primeira vez. Anemia representou um importante fator impeditivo de doação de sangue entre as mulheres, como encontrado em diversas publicações, porém a frequência (44,18%) nesta população está muito acima da média encontrada em outros estudos(4,5,6). Este achado ressalta como é importante que o profissional da triagem informe às doadoras sobre as principais fontes de ferro na alimentação e avalie as perdas sanguíneas relacionadas com prováveis alterações do ciclo menstrual e/ou patologias ginecológicas, possibilitando o encaminhamento da candidata para avaliação clínica, quando necessário. 

A população de mulheres candidatas à doação de sangue no NHHUPE é em grande parte composta de jovens, sendo necessárias mais informações sobre fatores de risco para anemia no grupo estudado, principalmente no tocante a anemia ferropriva. Alguns países já recomendam a reposição de ferro oral para mulheres doadoras de repetição, pelo risco de deficiência de ferro(7,8), o que ainda não é rotina no NHHUPE. 

A atitude de risco e vulnerabilidade, que pode justificar o perfil de inaptidão de doadores do sexo masculino, confirma a importância da triagem clínica e de entrevista objetiva, a qual traz a oportunidade de esclarecimento aos doadores sobre sexo seguro e vulnerabilidade, sendo a oferta de preservativos uma ação desenvolvida, na unidade(9,10,11).

Conclusão

Os estudos que investigam fatores associados aos tipos de inaptidões para a doação de sangue ajudam a definir o perfil do doador, subsidiando ações de captação, visando à qualidade do sangue coletado e uma transfusão segura.

É necessário desenvolver estratégias que garantam menor índice de inaptidão clínica no NHHUPE, dentre as quais, aumentar o pool de doadores de repetição e promover campanhas de esclarecimento sobre as principais contraindicações à doação de sangue. Uma avaliação mais profunda sobre as causas de anemia no grupo de candidatas à doação no HUPE também é aconselhável. Recomenda-se ainda a promoção do debate inter e multidisciplinar no tocante a questão de vulnerabilidade para DST e a segurança transfusional. 

Contato:

Prof. dra. Flavia Miranda Bandeira - Unidade de Hemoterapia HUPE

UERJ - FCM - Departamento de Medicina Interna – e-mail: flavia.hemoterapia.uerj@gmail.com

Referências

1. BRASIL, Governo do Brasil. Apenas 1,8% dos brasileiros são doadores de sangue. 2017. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br>. Acesso em: 10 fev. 2019.

2 BRASIL. Ministério da saúde. Portaria Consolidada MS N 5/2017, anexo IV. Brasil. 2017

3 HEMORIO. Indicadores 2018. Disponível em: <http://www.hemorio.rj.gov.br>. Acesso em: 11 fev. 2019.

4. ROHR, Jarbas; BOFF Daiane; LUNKES, Daniele Sausen. Perfil dos candidatos inaptos para a doação de sangue no serviço de hemoterapia do Hospital Santo Ângelo, RS, Brasil. Revista de Patologia Tropical, v. 41 (1): 27-35. jan - mar. 2012.

5, MONTEIRO, Danielle Kunzler; COMPARSI, Bruna. Principais fatores associados à inaptidão temporária e permanente de candidatos à doação de sangue. Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015). 

6. KUMARI, Sangeeta; et al. Prevalence and pattern of anemia among persons reported for blood donation at a tertiary care center in western part of Rajasthan. International Journal of Medical Science and Public Health. 2016, vol (6).

7. AMBRUN, Chantale; GOLDMAN, Mindy. The importance of iron for whole blood donors: a Canadian perspective. Disponível em: <https://professionaleducation.blood.ca>. Acesso em: 11 fev. 2019.

8. KISS, Joseph; et al. Oral iron supplementation after blood donation. JAMA. 2015 Feb 10; 313(6): 575-583.

9. ECHEVARRIA, Covadonga; GARCIA, Maria. Um modelo comportamental de doadores de sangue e estratégias de marketing para atração de fidelidade. Rev. Latino-Am. Enfermagem, 2014;22(3): 467-75.

10. FERREIRA, Oranice; PASSOS, Afonso Dinis Costa. Factors associated with failure of clinical screening among blood donors who have altered serological results in the Centro Regional de Hemoterapia de Ribeirão Preto. Rev. Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 2012:34(6): 411-5.